O lamentável Massacre de Eldorado dos Carajás completa 26 anos

(Créditos: Amnesty International)
Há 26 anos acontecia um dos episódios mais lamentáveis da história do nosso país, o massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, no qual 21 camponeses do Movimento Sem-Terra (MST) foram assassinados por cerca de 150 policiais que os cercaram numa área da região de Eldorado conhecida como “Curva do S”, localizada na BR-155, no dia 17 de abril de 1996.
O protesto no qual ocorreu a chacina estava sendo realizado após os Sem-Terra terem ocupado a fazenda “Macaxeira”. Essa ocupação de terras é tratada, pelo próprio Movimento, como sua mais importante luta, pois é a partir disso que denunciam terras griladas e/ou improdutivas. Cerca de 3.500 pessoas estavam no local e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já havia garantido a eles a desapropriação do terreno para a reforma agrária.
No entanto, um laudo acabou sendo o início da revolta dos camponeses. O documento declarava a fazenda como produtiva, o que na prática ia em favor do dono da propriedade e colocava os sem-terra como “vilões” da história. Por esse motivo foi iniciada a marcha, para pressionar as autoridades, pois, de acordo com o Movimento, a veracidade do laudo não era positiva.
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Kelli Mafort, coordenadora nacional do MST, mencionou, em entrevista, os efeitos causados após o massacre: “Esse massacre causou muita repercussão. Foram muitos protestos em todo o país. Na época, o governo Fernando Henrique Cardoso foi obrigado a criar o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que já foi acabado no golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. Ele foi obrigado a dar uma resposta porque ficou evidente que não havia reforma agrária no país e estavam se abrindo caminhos para mais massacres”, declarou ao “Brasil de Fato”.
Desde então, o Movimento segue ocupando as terras griladas e/ou improdutivas, buscando gerar respostas positivas do poder público em relação à concentração de terras no Brasil. A luta pela reforma agrária tem como intuito distribuir terras a todos os camponeses que necessitam, democratizando assim a propriedade da terra. No entanto, esse desafio não tem sido nada fácil. Ainda há muita violência – e impunidade – partindo daqueles que se acham “donos de terra”.
No último dia 10 de abril, o acampamento “Marielle Vive”, na região metropolitana de Campinas, em São Paulo, sofreu dois ataques consecutivos a tiros. Ninguém foi ferido, mas o terror, obviamente, ainda assim permanece. Apesar da situação, as famílias continuam no local, resistindo e lutando pela reforma agrária popular.
No dia 14 de abril deste ano, cerca de 100 famílias camponesas foram ameaçados pelo proprietário da fazenda “Santa Cecília Belvale”, da empresa SIDERPA Energética e Agropastoril LTDA, em Gameleiras (MG). Um suposto gerente e mais três homens foram armados ao local, sem apresentar qualquer documento que comprovasse a posse – ou mesmo reintegração de posse – aos moradores, como mostra o vídeo publicado pela CPT-MG. Segundo os sem-terra, o local foi ocupado em 18 de novembro de 2021, a luz do dia e completamente abandonado.

Outra situação emblemática dos últimos dias foi a divulgação do relatório “Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami e propostas para combatê-lo”, no qual revela um cenário de terror vivido pelos moradores da terra indígena Yanomami, em Roraima. O documento mostra o quanto o garimpo ilegal nestas terras cresceu, cerca de 3.350% (2016-2021). Além disso, denuncia como o garimpo afeta – e destrói – a saúde dos indígenas e a exploração sexual feita por garimpeiros que utilizam a fome de meninas e mulheres em troca de as estuprarem.
No Maranhão, em 2022, José Rodrigues, de 55 anos, foi a primeira pessoa, relacionada ao campo, assassinada em 2022. No dia 3 de janeiro, dentro de sua própria residência, na comunidade quilombola “Cedro”, em Arari. Além dele, o assassino também baleou a neta de seu José, de apenas 10 anos. Ela conseguiu sobreviver. O quilombo teve 5 moradores assassinados entre 2020-2022, todos por grileiros que buscam utilizar o território para cultivo de arroz e criação de búfalos.

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra, somente em 2021, nove pessoas foram assassinadas em conflitos por terras no Maranhão. Esse número coloca o Estado como o lugar de maior número de camponeses assassinados no ano. Na ocasião a CPT emitiu nota cobrando as autoridades do Governo do Maranhão por não estarem comprometida com a vida do povo do campo.
O Movimento Sem-Terra diz que o estado maranhense está há pelo menos 10 anos em posição de destaque negativo, sendo um dos locais mais perigosos para pessoas envolvidas na defesa de direitos à terra. A impunidade também é alta. Segundo a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e Agricultores Familiares do Maranhão (Fetaema), nos últimos 30 anos o estado maranhense teve pelo menos 140 homicídios no campo e menos de 5% foram resolvidos.

A coordenadora nacional do MST, Kelli Mafort, declarou que a luta pela reforma agrária, apesar de muita dificuldade, continua, para que o Brasil tenha um futuro mais justo para com seu próprio povo: “A reforma agrária é um pilar fundamental para a democratização do acesso à terra, mas também para que, de fato, a gente tenha um projeto de país e uma sociedade que atenda à maior parte do seu povo”.