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“É absurdo que o secretário de segurança tente transformar meu irmão em bandido” diz irmã de jovem com deficiência morto no MA

Hamilton César, 23 anos e com deficiência intelectual, foi assassinado na quinta-feira (17) por policiais civis após fazer postagem enaltecendo Lázaro Barbosa

“É um absurdo que o secretário de segurança do Maranhão tente amenizar e transformar meu irmão em bandido. É um absurdo que a decisão dele de não afastar e não punir os culpados”, contou ao Maranhão Independente Érica Gomes Lima, irmã de Hamilton César, jovem de 23 anos com deficiência intelectual assassinado pela Polícia Civil em Presidente Dutra, no Maranhão. A indignação da irmã vem após a decisão do secretário de Segurança do Maranhão, Jefferson Portela, anunciar na manhã desta quarta-feira (23), que os policiais envolvidos na morte não serão afastados até que o inquérito se conclua.

A justificativa do secretário é uma suposta falta de provas de que os policiais teriam cometido o assassinato, conforme disse em entrevista ao JM2 (clique aqui para acessar). Portela repetiu, ainda, a versão da Polícia Civil de que os agentes teriam revidado, com tiros, após Hamilton tentar atacá-los com uma faca. Procurada por nossa reportagem, Érica repudiou a colocação.

“Meu irmão foi executado pelo Estado, por um bando de covardes”, disse a irmã. “Não deram chance a meu irmão, arrancaram ele de nós. O executaram , o jogaram na viatura sem autorização de um familiar. Depois tentaram inverter a situação. Negaram atendimento a família, não fizeram perícia, não nos deram um laudo, depois ainda teve (sic.) a cara de pau de nos oferecer ajuda no velório. Quero justiça pelo meu irmão, quero os culpados condenados”.

Mudança de versões

Na entrevista, Jefferson Portela mudou a versão anteriormente divulgada pela Polícia Civil. Na primeira colocação, a instituição afirmou que teria ido à casa de Hamilton para prendê-lo em flagrante. Contudo, segundo o depoimento de Portela desta quarta, os agentes teriam ido apenas para entregar uma intimação e, lá, teriam sido atacados por Hamilton com a arma branca.

Na nota da polícia enviada à reportagem na última segunda-feira (21), não se fala de intimação. Segue o texto na íntegra:

“A Polícia Civil do Maranhão (PC-MA) informa que na última sexta-feira (17) (sic. – o crime ocorreu na quinta-feira, 17), após denúncias de moradores, atendeu uma ocorrência de ameaça e apologia ao crime em uma residência no povoado de Calumbi.

Ao chegar no local, o suspeito não acatou a ordem policial, atacando os agentes com uma arma branca (faca). Para conter a situação, policiais atiraram e um dos disparos atingiu o rapaz, que foi socorrido pelos policiais, levado ao hospital com vida, mas acabou vindo a óbito.

A Polícia Civil do Maranhão lamenta profundamente o fato e se solidariza com a família. Pontua, ainda, que um inquérito policial foi instaurado para apurar as circunstâncias da ocorrência que será acompanhado pelo Ministério Público e que posteriormente será encaminhado ao Poder Judiciário.
A Secretaria de Estado de Direitos Humanos (Sedihpop) também está acompanhando o caso.”

A Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop), em nota ao site na segunda-feira, afirmou que o secretário da pasta, Chico Gonçalves, havia protocolado o pedido de afastamento dos policiais – o que acabou por não ser acatado (clique para saber mais).

Entenda o caso

Hamilton virou alvo da polícia após fazer uma postagem em seu Instagram chamando Lázaro Barbosa, acusado de matar quatro pessoas da mesma família no começo deste mês, de ídolo – o que a instituição interpretou como apologia ao crime. Na última quinta-feira (17), os policiais o balearam três vezes dentro de sua própria casa, e em frente ao seu avô de 99 anos. Ele chegou a ser levado para a emergência, mas não resistiu.

De acordo com a nota divulgada pela Polícia Civil, os tiros aconteceram após o jovem atacar os agentes com uma faca. A família, contudo, desmente esta versão:

“Invadiram a casa da minha vó. Meu irmão tomava remédio controlado, nunca fez mal a ninguém. Meu irmão era acompanhado pela família, inclusive estávamos esperando a assistente social para conversar com ele sobre as postagens”, contou a irmã ao Maranhão Independente. A família relata que, ao chegar na delegacia da Polícia Civil do Maranhão em Presidente Dutra, o deputado César Ferro se negou a registrar o Boletim de Ocorrência.

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